domingo, 2 de janeiro de 2011

Lei universal do banho entre irmãos


Engraçado como desde criança burlamos leis e regras, sejam elas quais forem. Sem querer ou de propósito acabamos quebrando algum mandamento, fazemos coisas erradas, a mãe diz que não e o filho faz escondido. Dizem até que as regras foram feitas para serem quebradas. No entanto, existe uma, e somente uma, que acredito ser a maior regra universal, que nem o mais valente humano desalmado quebraria: a lei do banho entre os irmãos.

Digo isso pois há pouco tempo estava na praia com uma amiga, um calor carioca do cão, aquele sebo de areia + sal + fumaça de queijo-coalho + suor e pensávamos na alegria de ir pra casa e tomar um banho. Foi quando bradei a frase: “primeira a tomar ba-nho!”. Minha amiga olhou para o chão e tristemente falou: “segunda”. Neste momento percebi que nunca, na minha vida, havia dito essa frase para alguém que não fosse a minha irmã, e minha amiga apenas respondeu como os irmãos que não tiveram a perspicácia de lembrar primeiro.

A lei do banho é algo instintivo, ninguém ensina, ela simplesmente acontece de maneira natural. Todos os irmãos fazem, e ninguém nunca comentou sobre isso com os amigos. E esta, esta sim é uma lei que não é quebrada. Repare. Se o irmão fala que é o “primeiro a tomar ba-nho!”, o outro (ou outros - dependendo da quantidade vale falar rapidamente segundo, terceiro e quarto) não tenta correr antes para entrar no chuveiro. Também não tenta dizer que já havia falado antes, bater no irmão, chantagear ou chorar pro pai. No máximo tenta argumentar que está mais sujo ou mais cansado, quase sempre sem sucesso, e é obrigado a engolir a dor e angústia de ser o segundo. Esta sensação, inclusive, é muito importante para a formação da criança, que aprende na pele a lei do mais forte, sem ser necessário a morte para tal.

É notório como os irmãos, não importa a idade nem quantos sejam, respeitam a lei do banho, por mais que briguem, se odeiem e peguem as coisas um do outro. Note também que a frase não é dita com qualquer entonação. A pausa estratégica no “ba-nho!” é essencial para o funcionamento da regra.

O dia em que um irmão ouvir o outro dizer “primeiro a tomar ba-nho!” e chegar em casa e correr para o chuveiro antes, aí sim podemos começar a rezar, pois o mundo estará perdido.