domingo, 18 de dezembro de 2016

Sobre a morte, sobre fim de ciclos

Minha avó se foi essa semana, e isso me fez pensar sobre algumas coisas, entre elas o fim de alguns ciclos e laços que temos na vida.

Há 31 anos eu ia (ou tentava ir) semanalmente em copacabana para visitá-la . Antes ela e o vovô, depois só ela. Foram 31 anos procurando vaga. No mesmo prédio. O elevador, apertar o 7o andar, e a campainha que tocava música que o vovô comprou e a gente criança achava o máximo (até hoje eu acho o máximo). Quantas vezes eu e minha irmã já subíamos o elevador brigando pra ver quem ia tocar a campainha.

Esse ciclo na nossa vida acabou. Não vou mais ver o porteiro do prédio e as moças que por tanto tempo cuidaram da vovó. Algumas pessoas que nós só encontrávamos nos aniversários dela, eventualmente numa Páscoa, e agora talvez não encontre mais. Tenho a sorte de ter primos e tios, que por mais que não nos encontremos sempre, são família, sangue,  sobrenome e coração. A pequena família Pelosi de mulheres baixinhas, das tartarugas 1, 2 e 3. E do jabuti porque era vacilo só o Alexandre ficar de fora da contagem porque ele era homem. Dá um alívio saber que o laço que nos une é mais forte que a distância e o tempo.

É estranho pensar nessas mudanças, como a ida de alguém muda muitas coisas no nosso cotidiano. Vai ser estranho daqui 10 anos passar por copacabana e falar “minha avó morava aqui” como uma lembrança distante. A gente cresceu naquela casa. Ela era enorme,foi ficando menor. Os tapetes que os cachorros escorregaram foram sumindo, e os cachorros também. Os enfeites. A coleção de cachimbo já foi tem tempo. O cheiro do terço de rosa idem.

Até a minha primeira casa,há uma quadra de lá, já não tem mais cheiro de leite.

E assim a gente vai seguindo,construindo novas rotinas, novos lugares, novas pessoas.  E não significa que o de antes não teve valor porque não existe mais. Só mudou.

No coração cabe tudo isso, cabe o que ainda vai sumir, o que nem veio ainda. De vez em quando a gente puxa da caixinha, lembra, sorri, e guarda lá de volta. Junto com mais coisa.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Segure a porta pra alguém

Estava saindo de casa atrasada pro trabalho, entrei no elevador, quando apertei o botão ouvi o barulho de uma porta abrindo no corredor. Foram uns dois segundos até a porta do elevador fechar completamente, e nesse tempo me fizeram pensar: seguro a porta e espero pra ver se alguém está vindo ou fecho e vou embora logo porque estou atrasada?

Segurei. Olhei pro corredor e vi um senhorzinho vindo lááá do final do corredor. Quando ele me viu esperando deu uma apressada no passo, agradeceu, sorrimos, entramos.
E falou: "é bom começar o dia recebendo uma gentileza".

Eu estava atrasada e correndo. Mas fiquei leve. Naquela hora eu vi como um atitude simples pode ter mudado toda a energia do dia de alguém, mesmo que um estranho. Fui pro trabalho, não me estressei no trânsito, não cortei ninguém, eu simplesmente estava indo. Estava tudo bem.  

A minha simples ação mudou a energia do meu dia, e espero que o dele também. E que ele possa ter transmitido a mesma coisa boa pra outra pessoa. Que passa pra outra, e pra outra...

Que no meio desse fuzuê caótico enlouquecedor das nossas vidas modernas a gente pare 20 segundos pra segurar a porta pra alguém.