Pode não fazer muito sentido, mas quanto mais se ampliam os direitos das pessoas, menos limites elas têm. Explico: hoje as crianças são, sim, muito mais mal educadas e desobedientes do que antigamente. Por quê? Porque ninguém pode colocar limites. Colocaram as crianças numa “cápsula” onde todas viraram intocáveis. Os pais não podem colocar de castigo, a escola não pode repreender, tudo fere os direitos, traumatiza, e ficou mais fácil deixar passar do que tentar consertar.
Eu estudei no CAp/UFRJ, uma escola pública (que eu amo mais que tudo, por sinal), pequena, e que justamente por isso todo mundo se conhecia por nome. Lembro de algumas situações que se ocorressem hoje, seriam caso de tema debatido no Fantástico. Uma vez, eu e meus amigos levamos confete para a aula, pra jogar pra cima quando tocasse o último sinal (excelente idéia, diga-se de passagem). Quando deu 12h40 e o sinal tocou, foi aquela festa! Confete na sala inteira! Que durou cinco minutos. A professora avisou na portaria, e em um minuto a coordenadora chegou na porta e falou: “vai ficar todo mundo limpando a sala depois da aula”. Ok. Fomos até a despensa, pegamos as vassouras, varremos tudo, depois guardamos o material e fomos pra casa. Agora me diz, imagina se isso fosse hoje? Era motivo para matéria no jornal relatando o abuso da escola, demissões, discussões sobre o trabalho infantil...
Outra vez três meninos da minha sala, todos com uns onze, doze anos, picharam o banheiro da escola. A coordenação descobriu, avisou aos pais, comprou tinta e eles ficaram de tarde pintando o banheiro. Um deles, inclusive, subiu no vaso sanitário para alcançar no teto, caiu e quebrou o vaso. Machucou um pouco, mas acharam mais graça que dor. Se fosse hoje, o CAp estaria fechado, com certeza.
Eu aprendi o que era vandalismo quando quebrei a maquete de uma menina com dois amigos na terceira série. Achamos que não teria problema, e quebramos o isopor todinho. No dia seguinte, entra a moça do SOE na sala perguntando quem tinha feito aquilo. Levantamos a mão, levamos bronca (aí entendemos que tínhamos feito algo errado), chamaram nossos pais, e tivemos que chegar no colégio mais cedo pra encontrar a menina e pedir desculpas pessoalmente. No CAp, não tinha nem espaço para aquele tipo de pai que passa a mão na cabeça do filho, que vive da frase “meu bebê não fez isso” e culpa a escola pelos erros naturais que toda criança comete.
Por essas e outras que eu acho que o mundo está cada vez pior, pelo simples motivo de não poder haver repreensão – no sentido de educar. Minha irmã volta e meia escrevia na parede e no sofá. Quando eu olhava, estava lá a Laura, pequenininha, com aqueles cachinhos, chorando, esfregando a parede com sabão (no início eu ficava com pena, depois achava graça, como boa irmã mais velha). Se sujou, limpa. Pronto, não vai fazer de novo. Também não vai traumatizar a criança. Acho que falta aos pequenos aprender a ouvir "não". Foi de tanto ouvir não (provavelmente devido a quantidade de besteira que fazia), que a Laura aos quatro anos soltou a pérola que intitula esse texto.
Quando as crianças perceberam que podem fazer o que quiserem, que o máximo que vai acontecer vai ser ouvir um sermão de três minutos, elas realmente perderam o limite. Não sou a dona da verdade, mas desde que resolveram ensinar os pais a cuidar dos filhos, eles têm crescido cada vez piores.